segunda-feira, 31 de maio de 2010

café olé!

Ora aqui está uma notícia breve e curiosa. Vem no Correio da Manhã e dá conta de mais um dia Mundial. O dia Mundial do Leite, que se celebra amanhã.
Diz o Correio, que este dia Mundial do Leite foi criado em 2001, por proposta da FAO, a organização da ONU para a Alimentação e Agricultura. E diz que o propósito da criação deste dia mundial é lembrar a importância do consumo de leite, para reduzir a fome no Mundo em 2015 – o que é, ao que consta, o objectivo definido em 96, aquando da primeira Cimeira da Fome - acabar com a fome no mundo em 2015!

Continua depois a notícia lembrando, que o leite é nutricionalmente muito rico, que fornece cálcio, que é muito importante para o crescimento das crianças e também para a prevenção da osteoporose em adultos e idosos e ainda... e ainda, que é fundamental para as mulheres grávidas, com vista a um crescimento saudável do feto.

E tudo isto parece que é cientificamente comprovado... que o leite é rico em cálcio e que faz bem aos ossos e que, para as grávidas, é fundamental para um crescimento saudável do feto...

O que já não é assim tão científico é que, apesar da reconhecida importância do leite na alimentação e eventualmente também na luta contra a fome no mundo... o facto de haver gente que não o beba, ou que o beba em quantidade insuficiente... seja, ou se explique por uma questão de gosto, ou por se achar que não faz grande falta... Não é científico, mas é fortemente provável que, esses que não bebem leite, ou que o bebem em quantidade insuficiente, o façam, muito simplesmente porque não têm outro remédio. Porque não há leite para beber. Porque não têm dinheiro para o comprar, ou não o têm sequer, ao leite, disponível nas prateleiras das lojas, ou lojas sequer, onde o comprar.. ou ainda e eventualmente, porque as vacas que o poderiam fornecer estão tão pele e osso e exaustas quanto as próprias pessoas.

Onde quero chegar é aqui. Diz a notícia, que este Dia Mundial do Leite quer chamar a atenção e lembrar a importância do consumo de leite, para reduzir a fome no mundo em 2015... a intenção será louvável, mas parece que o pecado mora ao lado...

Ou seja e resumindo. Dêem-lhes leite para beber, que eles bebem e garanto-vos que nem precisam que lhes lembremos que o leite faz bem à saúde e que é bom para os ossos e que com cafezinho e croissants consegue mesmo ser bastante agradável, apesar de haver quem diga que não se devem juntar as duas coisas... café com leite... já ouvi que faz mal!

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Vem no Diário de Notícias. Diz que está a decorrer em França um debate sobre a identidade nacional. Uma iniciativa que tem o apoio do próprio chefe de estado, Nicolas Sarkozi.
Ora, a propósito desse mesmo debate, algumas associações cívicas, como a SOS Racismo e a União de Estudantes Judeus encomendaram um estudo sobre racismo e xenofobia em França.

O resultado concluíu que há cada vez mais franceses com preconceitos em relação a árabes , judeus e também em relação a homossexuais, em geral. Tanto faz, ao que parece, que , neste caso dos homossexuais, eles sejam árabes, judeus, ou franceses de alma, coração e raça...

Quanto ao preconceito contra os árabes, a Associação SOS Racismo diz mesmo que a França está a importar , por exemplo, o debate sobre o uso de burkas, ou sobre a proibição da construção de minaretes em mesquitas, como aconteceu na Suiça. Nesse cenário, a SOS Racismo acha que se está a assistir a uma liberalização do racismo. Aliás –e citando uma representante da organização: "Assistimos a uma liberalização da palavra racista nos últimos meses..." Enfim, se fosse só a palavra... a questão é que,  este estudo... , mais do que palavras, avança com números. E assim sendo, para 27,6% dos inquiridos, os árabes são mais delinquentes do que os outros (aqui, lembra-se que o ano passado essa percentagem estava nos 12%). Já quanto aos judeus... 30% dos inquiridos acham que os judeus têm mais influência do que os outros, nas finanças e nos media...
E por fim os homossexuais que, para 12% dos inquiridos , são mais obcecados por sexo.
A notícia é mesmo assim. Breve e sem mais explicações... como por exemplo, no caso de um homossexual judeu!... o que pesará mais nesse caso? Qual será a obsessão maior? O sexo, ou o dinheiro?...
E já agora, os árabes também... se pudessem escolher entre investir nas Bolsas, ou roubá-las, às bolsas, no Metropolitano... que é que acham ?...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tratem-me por Isabel!

Ora, temos aqui um título curioso, em chamada de capa, no 24 Horas de hoje. Diz assim, com fotografia ilustrando de forma eloquente a matéria em apreço: "Bruna Real faz presença em discotecas... Professora da Playboy recebe dinheiro para animar estudantes". Enfim, é de bom tom que se pague a quem o faça... seja animar , seja o que for, o serviço prestado... Agora, a subtil esparrela, que o título estende... a professora da Playboy, de que se fala, se bem se lembram, é a mesma que posou nua para a revista, o que levantou escândalo e polémica em Mirandela, onde lecionava numa escola do ensino básico... ora, o título diz que Bruna Real anima estudantes em discotecas... é claro que não são os mesmos estudantes, que eventualmente terá ofendido, ou para quem representava mau exemplo e perigo iminente... que esses, alunos do básico, não vão a discotecas...



Agora outra história, que por aqui passou ontem e que, pelo vistos , estava também mal contada... Lembram-se?... Era qualquer coisa como o Bloco de Esquerda querer propor que os transsexuais pudessem alterar o sexo no BI, sem recurso a intervenção cirúrgica que o justificasse. Lembram-se decerto da estranheza que o título provocou. Como se podia mudar realmente de sexo, sem intervenção cirúrgica?!... Só de forma simbólica, ou metafórica, ou , se quisermos, pelo aparato cénico da personagem... ou seja, vestindo-se e comportando-se a pessoa com ademanes próprios do sexo, que  quer adoptar... uma questão cénica, mais por aí... Mas hoje os jornais trazem o asunto de volta e vão mais longe e mais fundo na explicação.

Vem no DN, sob este título... "Mudança de nome no BI agrada a transsexuais".

Depois explica-se , dando o exemplo de duas mulheres que se dizem satisfeitas, por o Parlamento poder vir a aprovar a lei, que permite aos transsexuais mudar de nome no bilhete de identidade, apenas com a apresentação do diagnóstico médico... Saltemos esta parte, do diagnóstico médico, que isto cheira logo a doença e vamos direitos ao depoimento de uma das entrevistadas pelo jornal.
Diz que assim vai poder viver de acordo com a sua identidade e que nunca pensou mudar para um nome neutro de forma a contornar os problemas de género... porque acha que tem o direito, como mulher e cidadã, a viver de acordo com a sua identidade... por isso acha bem que possa vir no futuro a poder assinar com nome de homem tudo o que for documento, oficial ou não... coisa que parece que já faz, mas com muitos problemas e explicações, por vezes constrangedoras... citemos: "é uma situação constrangedora ter um nome e um sexo nos documentos e outro na realidade."

Ora, se ainda não nos perdemos, estávamos a falar de transsexuais... sendo o exemplo escolhido o de duas mulheres, que querem ser identificadas com nomes masculinos... parece que, de momento, é mesmo só isso...

E aqui saltam-me à memória quem o tenha feito para assinar a obra feita... George Sand, por exemplo - Amandine-Aurore-Lucile Dupin, de seu verdadeiro nome...

Ou Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Bernardo Soares, Alexander Search... enfim, todos eles nomes que confluem na mesma pessoa... que, como bem sabeis, no Bilhete de Identidade tinha outro nome bem diferente...

Mas enfim, aqui também há que ter em conta que estamos a falar de gente com obra feita... e o nome, ou esta variedade de nomes, este jogo de espelhos justifica-se porque era justamente a obra quem o exigia... por razões várias e conhecidas...

Ora, diz o Diário de Notícias que em Portugal existem cerca de 150 pessoas transsexuais... Não serão muitas, mas talvez que dessas 150 sobressaia alguma que faça História, mesmo com heterónimo, pseudónimo, ou nome de código.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

é, como se costuma dizer, cagativo.

Ora, temos aqui um misterioso título, em chamada de capa no Diário de Notícias. Diz assim: "Nova lei permite mudar de sexo sem cirurgia."
E então?!.. Não soaria menos estranho se se dissesse, por exemplo: "nova tecnologia permite mudar de sexo sem cirurgia"; ou: "novos medicamentos permitem a reestruturação e reordenamento dos tecidos da zona pélvica, por forma a conduzirem a uma mudança de sexo, sem intervenção a cirurgia"?!... Por exemplo. Pelo menos, para um leigo na matéria, haveria de soar mais razoável.
A menos que estejamos mesmo no advento de uma qualquer revolução não anunciada, em que feitos científicos deste quilate se conseguem por obra e graça de um simples decreto, ou projecto lei... quase como se o poder da palavra conseguisse mesmo esse prodígio – no caso, alguém mudar de sexo, sem intervenção cirúrgica...
Pois é mesmo de um projecto lei que se trata. E da autoria do Bloco de Esquerda.
Diz, a chamada de capa, que o Bloco vai apresentar para a semana um projecto, que prevê a consagração oficial da mudança de sexo a quem o queira, mesmo sem fazer a operação, que reajusta o corpo do candidato à sua nova condição e género. Segundo o DN, o Bloco de Esquerda quer assim reforçar os direitos de identidade dos transsexuais... quer assim, que a mudança de sexo seja reconhecida e registada no Bilhete de Identidade, sem que para isso seja necessária   intervenção cirúrgica, que realize efectivamente essa mudança. Hoje, o que se passa, explica o DN,  é que alguém, mesmo que tenha, por exemplo, sido operado para mudar de mulher para homem, ou vice versa... continua a ser identificado no BI com o sexo com que nasceu... Ora, em defesa dos direitos dos transsexuais, ou transgéneros, que parece serem a mesma coisa, o Bloco quer que baste a declaração do próprio, para se fixar a identidade sexual do cidadão, no registo oficial de identidade , no BI, portanto.
E se a ideia vinga? Terá o candidato, ou candidata de se vestir de forma apropriada, para que a declaração não desminta ou deixe dúvidas quanto ao sexo em causa?... Ou basta a palavra dada?... Haverá o hábito de fazer o monge, ou, em princípio, basta o Verbo?...

Há no entanto aqui um pormenor, que me parece que estamos a esquecer... Naquela linha onde , no BI, se pergunta : sexo – a questão não é saber quais as apetências, práticas, ou fantasias, ou devaneios sexuais de cada um. O que se quer saber mesmo é o sexo a que pertence. Fisiológicamente falando.... Ou seja, mesmo que Ela se vista como um estivador, cuspa para o chão e coçe com a mão em garra aquilo que lá não está,  ou Ele saia para a rua enfeitado como uma árvore de Natal e  com ademanes de Marilin...  Isso, para o Estado português, é, como se costuma dizer, cagativo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

uma questão de dignidade

Diz assim, o título: "Justiça ordena corte na água fresca em todos os tribunais"
Em nome da austeridade, explica-se depois já em sub-título. Os tribunais foram proibidos de renovar os contractos com fornecedores de água refrigerada, os funcionários lamentam e queixam-se de que  nem os computadores funcionam... Parece que sim, que demoram uma hora a arrancar. Enfim, uma hora, mesmo uma hora, talvez seja exagero, mas a impaciência, já se sabe, não tem a noção do tempo.
Agora, quanto à água fresca... Pois bem, o que se passa é que nem fresca nem natural. Pelo menos dessa água mineral, que as tais máquinas usam e distribuem... Enfim, a verdade também é que não serão todos os tribunais afectados por esta decisão . A razão é clara com água. É que nem todos os tribunais tinham essas máquinas de distribuição de água mineral, fresca ou natural...

Agora os que tinham... aí é que a indignação começa já a levantar fervura. O DN lembra que estas máquinas são até uma indicação expressa da Direcção Geral de Saúde e fazem parte do plano de contingência para as ondas de calor. Foi justamente este um dos argumentos usado já pelo Sindicato dos Oficiais de Justiça, para contestar a decisão. Um representante do sindicato disse ao DN - citemos: "penso que terá sido um lapso. Amanhã (que é hoje) vamos reunir-nos com o director da Direcção Geral da Administração da Justiça e certamente que este assunto será abordado." Depois continua. "Um utente passa 4 ou 5 horas numa sala de audiência e para beber um copo de água vai ter de ir à casa de banho..." e conclui desta forma surpreendente. "É uma questão de dignidade."

Reconhece mais adiante que a alternativa é levar uma garrafinha de água mineral, fresca ou natural, comprada na rua...
Mas fiquemo-nos pela questão da dignidade.

Ter de ir beber água à casa de banho é uma questão de dignidade. "Para beber um copo de água vai ter de ir á casa de banho? É uma questão de dignidade."

De dignidade... portanto. Uma questão de dignidade... a dignidade... a di-gni-dade ... não sei se já vos aconteceu... Repetir uma palavra, tantas vezes que ela começa a soar estranha e quase como uma espécie de disparate sem sentido... Dignidade... dignidade... dignidade... dignidade... dignidade... dignidade... dignidade... dignidade...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

rijo que nem um papo seco com 15 dias

"Médico suspenso por atender mal utente que morreu" – é sob este título, que o Jornal de Notícias anuncia o sucedido.
E foi em Celorico de Basto, que tudo se passou. Já lá vão dois anos, mas o resultado do processo só agora foi conhecido.

Recuemos entretanto a esse 1º de Setembro de 2008.
Eram 8 e 10 da noite, quando a doente foi chamada. Entrou em cadeira de rodas acompanhada por familiares, que terão dito ao médico, que a senhora sofria de alcoolismo e tinha problemas sociais. Depois saíram e deixaram-na com o médico. A consulta não demorou mais que 3 minutos e – segundo o relatório do processo disciplinar - o médico "não dirigiu a palavra à paciente, não lhe mediu a temperatura, não a auscultou, não lhe tocou, ou efectuou qualquer observação visual, não pediu colaboração do serviço de enfermagem para qualquer acto ou tratamento, não prescreveu qualquer medicação ou tratamento..." Diz o relatório, que também não perguntou à família, nem conferiu a história clínica da senhora, registada no sistema informático do SAM. O médico diz que não o podia fazer, mas o relatório desmente-o . Diz que é possível, sim senhor, aceder à base de dados, através do SAM.

Entre parêntesis, deixem que sublinhe esta interessante observação do médico de Celorico. Diz assim: "foi um contacto rápido, porque entendi a consulta como um aconselhamento e os acompanhantes também nada me questionaram e saíram logo." Sabe-se entretanto que saíram logo, para levar a senhora a outro sìtio, no caso, ao hospital de Fafe, onde acabou por morrer , 3 horas e meia depois. Segundo o processo clínico - e agora aqui sim, digam-me se não soa curiosa esta observação - diz o médico: "como a utente vinha em cadeira de rodas, não me chamou a atenção." A cadeira de rodas é,  como todos sabemos,  um meio de locomoção muito em moda actualmente e, como bem sabeis também, a vaidade humana resiste muito dificilmente a modas. Adiante.

Segundo o relatório do processo disciplinar... "não se conclui que a deficiente actuação do arguido tenha sido a causa directa do falecimento da doente, mas admite que concorreu para agravar o seu estado de saúde..." O documento não faz igualmente referência ás causas reais da morte da senhora, mas conclui que o médico, "com a sua actuação negligente no exercício da profissão de médico violou o dever de zelo a que está obrigado." Daí, o Estatuto Disciplinar da Ordem ter decretado uma suspensão de 60 dias.

É óbvio que nem um médico pode, se calhar, prever com rigor a hora exacta a que alguém vai morrer... mesmo que tivesse conversado com a senhora duas horas inteiras e ficado a saber de tudo o que se queixava, o historial clínico, o que a levou à consulta... tudo isso e mais alguma coisa e a senhora acabaria por falecer na mesma, 3 horas e meia depois... é bem provável que sim.. estava escrito, como se costuma dizer... tinha chegado a hora dela... é possível que sim, mas isso o médico nunca há-de saber, já que, ao que parece, mal falou com ela, ou nem sequer a ouviu. A questão é que, se fazemos essa ligação directa, entre o laxismo do médico e a morte da doente... 60 dias de suspensão de funções soa estranho... soa quase a férias grandes. Já se o problema foi tê-la despachado em 3 minutos sem lhe prestar cuidados nem atenção... aí... se calhar o caso torna-se mais complicado; primeiro porque, para além de parecer eventualmente uma pena demasiado pesada para a falta cometida, sobra ainda estoutro problema... é que por essa lógica, qualquer dia corre-se o risco de não haver clínicos disponíveis para os Serviços de Atendimento Permanente... vulgo, os SAP... posso-vos garantir que, não se chegou a extremos destes , mas sei de quem foi às urgências , para ser despachado para casa com uma pneumonia e esta receita: "descanse, tome um xarope, dê-lhe com duas aspirinas, que amanhã está rijo que nem um papo seco com 15 dias!"

quinta-feira, 20 de maio de 2010

a Sagrada Família

Ainda não vos tinha dito, mas hoje o I traz na capa a notícia de um abaixo-assinado, ou, enfim, um movimento de mobilização que corre na Internet a convocar para um fim-de-semana de luto nacional. O próximo. Já este que vem, o de 22 e 23. Dois dias de luto nacional e de protesto contra o governo. Dois dias de contestação. A ideia é toda a gente se vestir de negro quando sair à rua este fim-de-semana. Ou pelo menos alguma coisa preta, em sinal de luto nacional....

Mas não era disto que vos queria falar. Vamos ao Público.
Há duas deputadas socialistas, que propõem acabar com alguns feriados nacionais, em nome da crise e da recuperação da economia nacional. São duas deputadas apenas, daí soar um pouco exagerado, escrever-se em título, como o Público o faz que :"Socialistas querem acabar com 4 feriados..."

Mas traz mais para contar, este titulo. Diz que querem acabar com 4 feriados mas criam o Dia da Família.

Dos feriados a extinguir... são dois feriados religiosos e mais dois feriados civis. Cito de memória, que um desses feriados a abater seria eventualmente o 5 de Outubro... Enfim, acabar com o 5 de Outubro já este ano seria talvez pouco oportuno, já que é justamente este ano que se celebra o centenário desse 5 de Outubro, o de 1910, o da implantação da república portuguesa...

Agora o objectivo, já em termos mais técnicos e citando as proponentes da ideia... o objectivo é equilibrar o efeito do aumento do custo da unidade de trabalho, o objectivo é alcançar uma melhor programação dos dias úteis de trabalho anuais adequando-os à prática de outros países. A Espanha, por exemplo. Em Espanha há só 10 feriados nacionais... Parece que foi a partir daí, que se chegou também à conclusão que Portugal não deveria ter mais de 11 feriados nacionais e dai abolirem-se os 4, a que já nos referimos...
Já quanto aos feriados móveis, haverá que encostá-los a fins de semana, também para economizar tempo e arrumar o calendário de forma mais composta e sem quebras na produção... Enfim esta geometria é talvez um pouco confusa, mas decerto que quem a propôs sabe como levá-la à prática...

E chegamos ao Dia da Família.
É ainda parte do mesmo projecto das duas deputadas socialistas... a criação do Dia da Família que haveria de ser celebrado a 26 de Dezembro, coladinho ao Natal.

E porquê coladinho ao Natal?!... Será para que os não cristãos, que também têm família, possam ter igualmente motivos e oportunidade para celebrar e comer filhoses e oferecer prendas uns aos outros, aproveitando assim as promoções da época?...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

lindo serviço

Vem no Público.
Agora é de hospitais, que se vai falar.
Primeiro, a notícia desta decisão que pode vir a fazer História... Diz o título: "Hospitais públicos obrigados a pagar operação a doente tratado no privado."
E continuo a ler, pelo menos este primeiro parágrafo... "A Entidade Reguladora da Saúde intimou dois hospitais públicos a pagarem a meias uma operação a um descolamento da retina, que uma doente fez no hospital privado Cuf Descobertas, depois desta não ter sido atendida de imediato nas duas unidades, por ser véspera de fim-de-ano. A Entidade Reguladora concluíu que houve violação grosseira do direito de acesso ao Serviço Nacional de Saúde." 
O Hospital de Coimbra já aceitou pagar a parte que lhe cabe, mas já o Centro Hospitalar de Lisboa Central (vulgo, hospital de S. José) recusou-se a fazê-lo, alegando que não há indícios de má prática clínica, que justifiquem a penalização.

E agora aqui , talvez não se possa falar de má prática clínica, já que a notícia não diz que a operação tenha corrido mal... o que aconteceu foi que se operou o que não era preciso. Estamos já noutra notícia, apesar de não termos saído do Público.
Avançando então duas páginas aterramos neste título: "Doente operado ao braço errado no Hospital Particular de Lisboa". Foi o que aconteceu.

E a história é ainda mais curiosa, quando chegamos a este pormenor. É que, mesmo depois e apesar de se ter preparado o braço doente para a operação, acabou por operar-se o braço são. O doente só descobriu quando acordou e sentiu uma estranha impressão onde não devia...

Primeiro, foi a enfermeira a reconhecer que tinha havido engano, depois vieram os médicos e aqui a conversa animou-se. O cirurgião ficou muito aflito, desdobrou-se em desculpas. O chefe da equipa de cirurgiões ... esse admirou-se e terá dito: "porque é que não disse nada?"... ao que o doente terá respondido mais ou menos que, com uma anestesia que o pôs a dormir 3 horas, era difícil dizer fosse o que fosse... é o que acontece com as anestesias em geral... põem as pessoas a dormir, o que dificulta a comunicação... Consta que entretanto tentou, o chefe da equipa, passar as culpas para a enfermeira. Aqui o doente indignou-se. Respondeu que a enfermeira se limitara a prepará-lo para a operação e não se enganou . ou seja, rapou o braço que era mesmo para ser operado... (aqui fica entretanto uma dúvida.... então, raparam-lhe o braço esquerdo e operaram o direito?!... e com pelos e tudo? Ou raparam também o direito, e se o fizeram não repararam então que havia ali um principiozinho de confusão e barafunda?!... ) feche-se o parantesis.
Propuseram-lhe também, o chefe da equipa e um outro cirurgião, que voltasse de imediato para a sala de operações, que lhe operavam o braço doente ( não diz, mas calcula-se, sem custos acrescidos)... Citemos o doente: "O cirurgião disse-me que já que estamos aqui aproveitamos e vamos já operá-lo ao outro braço, mas antes ainda me informou que aproveitara o engano para reparar uma lesão antiga no braço direito". Fim de citação. Ora, o doente queixava-se era do braço esquerdo, do direito nem se lembrava de alguma vez ter sentido qualquer coisa de extraordinário... mas enfim, se o médico o garantiu. De qualquer forma, declinou o convite e a proposta. Quanto mais não fosse, porque depois ficaria com ambos os braços ligados e incapazes de qualquer acção  útil... como por exemplo, aplaudir o - assim chamado – lindo serviço.

terça-feira, 18 de maio de 2010

a propósito das noivas de santo António

Vem no 24 Horas, a propósito das noivas de santo António. Diz o jornal que foram ontem convidadas a assistir a uma oficina de sedução sexual... truques para quebrar a rotina – anuncia o título da notícia.
Ao todo eram 15, as jovens noivas de santo António e ficaram a saber que fantasias sexuais são essenciais e para apimentar o casamento até aprenderam uma coreografia sensual, no fim da sessão.
As palavras chaves desta oficina, diz o 24 que foram a auto-estima e a auto-confiança... Enfim, conceitos muito em voga ultimamente... coisa moderna, portanto.
Mais adiante lê-se: "se querem alguma coisa têm de ser vocês mulheres a tomar a iniciativa. A mensagem que têm de passar é a de que ele é o homem mais sortudo do mundo por vos ter." Aqui, já se viu que se começa a confundir auto-confiança com basófia. Mas adiante.
Adiante e vamos a este pequeno sublinhado, que o jornal destaca... Dica de sexo - é o mote: "Coloque uma lâmpada encarnada na sala, para criar um ambiente mais íntimo. Vista-se de forma sexy, coloque uma peruca e umas luvas e surpreenda o seu companheiro quando este estiver a ver um jogo de futebol. É garantido que o primeiro a desligar a televisão será ele." 
O sublinhado não diz o que acontece a seguir. Das duas uma, ou ele chama a polícia, que tem um estranho em casa, ou saem ambos, para ir brincar ao Carnaval.
Assim como assim, mascarada já ela está...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

uma raça de calões

Enfim, a verdade é que o título não chega a ser manchete, fica-se pela chamada de capa, hoje, no Jornal de Negócios. E diz assim: "PSD propõe 3 dias de semana de trabalho grátis de desempregados".

A proposta já vem de quando Passos Coelho era ainda só candidato à liderança do Partido. Agora volta a ser equacionada e sabe-se que tem o apoio do CDS. Falta-lhe o voto dos socialistas, para seguir em frente. PCP e Bloco já disseram que votam contra. Acontece que actualmente a lei já o prevê, que desempregados a receber subsídio de desemprego, ou o rendimento de inserção podem ser chamados a fazer trabalho comunitário, sendo, nesses casos, pagos de forma quase simbólica. Ou seja, acrescenta-se-lhes uma percentagem aos dinheiro que recebem de subsídio. A lei prevê que isso aconteça, em casos de trabalho considerado socialmente necessário. Prevê também que, perante a recusa injustificada do cidadão, lhe seja retirado o subsídio.

A proposta do PSD quer tornar obrigatória essa prestação e chama-lhe tributo solidário. A medida abrange todos entre os 18 e os 60 anos e prevê uma carga horária de 20 horas, distribuída por 4 dias da semana. Também aqui, se o cidadão se recusar, sem justificação válida, fica sem subsídio... sendo que, no caso do rendimento de inserção, a suspensão vale por dois anos. Quantos aos motivos válidos... Eles são razões de saúde do beneficiário, ou prestação de assistência familiar... sendo que tudo isto é ainda muito no geral, falta regulamentar os pormenores da proposta...

E entretanto, chegamos à revelação ... diz o Jornal de Negócios, ao correr da pena e ali algures em fim de parágrafo, perdido no meio da prosa... diz, que a proposta do PSD é omissa em relação à remuneração, pelo que se presume que é trabalho gratuito...

Homessa! É omissa?! o que permite, portanto  que se conclua que: "PSD propõe 3 dias por semana de trabalho grátis de desempregados".
Bom, já vimos que as tais 20 horas de trabalho podem ser repartidas por 4 dias... e não os 3 de que fala o título de capa... enfim, também pode ser que o título é que esteja certo ... Já quanto ao trabalho grátis... Parece que afinal a gratuitidade do trabalho, ou desse tal tributo solidário , é apenas uma presunção do jornalista que escreveu o artigo... se bem se lembram... a proposta é omissa em relação à remuneração pelo que se presume que é trabalho gratuito...

Seja como for – e se de presunção se fala – pode presumir-se também, que para o PSD, o problema é mesmo a falta de produção, a falta de mão de obra para acelerar a produção. Mesmo que para isso se vá buscar os desempregados, para trabalharem de borla... O problema não está portanto na gestão das mais valias da produção. Ou sequer na gestão dos lucros do trabalho, mas sim , logo na origem... se os investidores andam assustados com a economia portuguesa não é porque achem que estamos na penúria e sem fundos para honrar dívidas e compromissos... para os investidores, o problema é que estão convencidos, que os portugueses são uma raça de calões, que só trabalham se lhes apontarem um arcabuz ao nariz.

quinta-feira, 13 de maio de 2010


solidários à base de porrada

Manchetes destas !...
Enfim, uma tal mancha gráfica, como a que ilustra hoje a capa do Diário de Notícias, só as costumamos ver quando alguém muito importante morre, ou se deu alguma tragédia tamanha. 
O rectângulo negro cobre quase meia página . Em letra gorda , redonda e de um branco tonitroante , a legenda anuncia: "Sobem todos os impostos".

É sabido que impostos é coisa que ninguém pagava – se em rigor e boa verdade fosse possível . Parece que não é e por isso há que dividir o mal pelas aldeias e  a despesa por todos... Enfim, por todos os que têm rendimentos próprios, qualquer coisa de seu.
Dá-se o caso de, mesmo sem o dizer, o Estado reconhecer que , de livre vontade, ninguém abriria – como se costuma dizer – os cordões à bolsa. Criou-se, então, um mecanismo que , com toda a propriedade se chamou de "Imposto"... ou seja, uma forma de ir cobrando, coercivamente, uns trocados para equilibrar o Orçamento de Estado. De resto, já se sabe...A alternativa é cair fora da lei e fugir ao Fisco.

Temos , portanto – e é do senso comum - que, pagar impostos é – até ver – a única maneira do Estado ter dinheiro para pagar as despesas correntes do governo da Nação. As despesas inerentes à manutenção do bem comum. Da prosperidade possível do país. Do bem estar da população. Assim sendo, talvez que se devesse chamar com mais propriedade... o "Pressuposto"... já que se deveria partir desse pressuposto, que para o bem comum, quem tiver dinheiro para isso deve colaborar, dando uma parte dos rendimentos ao Estado. Tão natural como lavar a cara todas as manhãs... Num cenário mais contrafeito,  poderíamos também comparar a situação a uma doença crónica. Qualquer coisa com que tem de se conviver o resto da vida e que  condiciona de certa forma os movimentos, mas não  impede de continuar irmos andando, com alguma alegria e qualidade de vida...

Num patamar mais avançado dessa pedagogia, que está por fazer, poderia chegar-se ao "Proposto"! Aí seria já quando cada um desse o que entendesse, sem se pôr a fazer contas a quem  deu mais, ou quem deu menos. Seria assim: o País está em dificuldades, o Estado não consegue gerar* receitas que cubram as despesas, o que propomos é que, quem puder, ajude com qualquer coisinha. Um "Proposto", portanto.

Para já estamos ainda na fase do Imposto... o nome diz tudo... diz por exemplo que é, no mínimo, um absurdo dizer-se que se pede a alguém que faça o que seja... um esforço, por exemplo, quando esse pedido vem com o rótulo de imposto. É um disparate semântico. Um eufemismo disparatado.

Um disparate que não nos impede, no entanto, de sonharmos com o dia em que, em vez de "Imposto", se lhe possa chamar.... "Com Todo o Gosto".


* tinha escrito "gerir", mas reparei a tempo, que me tinha enganado... Ainda bem! (que reparei a tempo)