sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tratem-me por Isabel!

Ora, temos aqui um título curioso, em chamada de capa, no 24 Horas de hoje. Diz assim, com fotografia ilustrando de forma eloquente a matéria em apreço: "Bruna Real faz presença em discotecas... Professora da Playboy recebe dinheiro para animar estudantes". Enfim, é de bom tom que se pague a quem o faça... seja animar , seja o que for, o serviço prestado... Agora, a subtil esparrela, que o título estende... a professora da Playboy, de que se fala, se bem se lembram, é a mesma que posou nua para a revista, o que levantou escândalo e polémica em Mirandela, onde lecionava numa escola do ensino básico... ora, o título diz que Bruna Real anima estudantes em discotecas... é claro que não são os mesmos estudantes, que eventualmente terá ofendido, ou para quem representava mau exemplo e perigo iminente... que esses, alunos do básico, não vão a discotecas...



Agora outra história, que por aqui passou ontem e que, pelo vistos , estava também mal contada... Lembram-se?... Era qualquer coisa como o Bloco de Esquerda querer propor que os transsexuais pudessem alterar o sexo no BI, sem recurso a intervenção cirúrgica que o justificasse. Lembram-se decerto da estranheza que o título provocou. Como se podia mudar realmente de sexo, sem intervenção cirúrgica?!... Só de forma simbólica, ou metafórica, ou , se quisermos, pelo aparato cénico da personagem... ou seja, vestindo-se e comportando-se a pessoa com ademanes próprios do sexo, que  quer adoptar... uma questão cénica, mais por aí... Mas hoje os jornais trazem o asunto de volta e vão mais longe e mais fundo na explicação.

Vem no DN, sob este título... "Mudança de nome no BI agrada a transsexuais".

Depois explica-se , dando o exemplo de duas mulheres que se dizem satisfeitas, por o Parlamento poder vir a aprovar a lei, que permite aos transsexuais mudar de nome no bilhete de identidade, apenas com a apresentação do diagnóstico médico... Saltemos esta parte, do diagnóstico médico, que isto cheira logo a doença e vamos direitos ao depoimento de uma das entrevistadas pelo jornal.
Diz que assim vai poder viver de acordo com a sua identidade e que nunca pensou mudar para um nome neutro de forma a contornar os problemas de género... porque acha que tem o direito, como mulher e cidadã, a viver de acordo com a sua identidade... por isso acha bem que possa vir no futuro a poder assinar com nome de homem tudo o que for documento, oficial ou não... coisa que parece que já faz, mas com muitos problemas e explicações, por vezes constrangedoras... citemos: "é uma situação constrangedora ter um nome e um sexo nos documentos e outro na realidade."

Ora, se ainda não nos perdemos, estávamos a falar de transsexuais... sendo o exemplo escolhido o de duas mulheres, que querem ser identificadas com nomes masculinos... parece que, de momento, é mesmo só isso...

E aqui saltam-me à memória quem o tenha feito para assinar a obra feita... George Sand, por exemplo - Amandine-Aurore-Lucile Dupin, de seu verdadeiro nome...

Ou Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Bernardo Soares, Alexander Search... enfim, todos eles nomes que confluem na mesma pessoa... que, como bem sabeis, no Bilhete de Identidade tinha outro nome bem diferente...

Mas enfim, aqui também há que ter em conta que estamos a falar de gente com obra feita... e o nome, ou esta variedade de nomes, este jogo de espelhos justifica-se porque era justamente a obra quem o exigia... por razões várias e conhecidas...

Ora, diz o Diário de Notícias que em Portugal existem cerca de 150 pessoas transsexuais... Não serão muitas, mas talvez que dessas 150 sobressaia alguma que faça História, mesmo com heterónimo, pseudónimo, ou nome de código.

Sem comentários:

Enviar um comentário