quinta-feira, 24 de junho de 2010

básicamente bardamerda

Pois, se os títulos e as manchetes não chegam, aí temos toda uma primeira página a revelar à luz da evidência o real estado da economia nacional. Assim mesmo, a capa do Diário Económico – nem de propósito, nada melhor que um jornal de economia para nos esclarecer com autoridade e sem sofismas – o Diário Económico portanto ... a capa do Diário Económico de hoje divide-se em duas partes distintas e separadas transversalmente por uma fina linha negra. Do lado de cima, os títulos que anunciam que o acordo entre o Governo e o PSD coloca portagens em todas as SCUT e que a oferta da Telefónica pela Vivo está em risco de ser anulada e - por baixo da fina linha que divide a capa em duas... outro anúncio... e neste caso, pode mesmo falar-se em anúncio, já que é de publicidade que se trata. Antes de mais convém dizer, em abono da verdade, que a capa não está rigorosamente dividida ao meio. A parte de baixo é maior que a de cima... mas... o anúncio... o anúncio é a uma conhecida marca de azeite. Um azeite que , diz o anúncio – é o melhor do mundo e que foi mesmo eleito pelos maiores especialistas mundiais em azeite... que ganhou um primeiro prémio num concurso internacional, aliás, acrescenta-se logo a seguir – o mais reconhecido concurso internacional de avaliação de azeites...

Ora aí está... não que a economia nacional está na mão de azeiteiros... não era aí que queria chegar, mas que a economia nacional força jornais, tidos como sérios e respeitáveis, a ocupar meia página, logo a da capa, com um anúncio que, tanto pelo espaço que ocupa, como pela própria mancha gráfica, acaba por ser mais evidente e chamativo que os próprios títulos das notícias propriamente ditas, que o Diário Económico  trás hoje para contar. Ou talvez não. Talvez o Económico reflicta hoje em primeira página o retrato fiel da sua própria economia, ao ceder à publicidade paga o espaço que haveria de ser das notícias do dia. E mais tendo em conta que é da capa do jornal que se trata... as notícias mais importantes do dia... Pois hoje, pelo menos para o Diário Económico, mais importante que as SCUT ou o desfecho desta guerra das telecomunicações... é o azeite.
E se alguém disser que, pois sim, mas, se virarmos essa página, vemos que a que se segue é em tudo idêntica, mas sem a publicidade e com o resto da actualidade a completar de forma mais normal e comum o espaço de toda a página... aí respondo que quem passa na rua e vê o jornal no quiosque não pode adivinhar isso. E se chegar à banca e começar a folhear o jornal, para ver o que se segue, o mais que lhe pode acontecer é o ardina correr com ele dali para fora, que se quer ler jornais de graça vá à Hemeroteca Municipal .

E hoje foi assim... ou antes , se me permitem, só mais esta.
É a capa e manchete do 24 Horas... "Como Manuela quer tramar Sócrates em tribunal..."
Aí está uma coisa que deveria interessar relativamente pouco ao leitor... se fosse, como Manuela, ou Antónia, ou Joaquim, para o caso é igual... como querem apurar a verdade e esclarecer responsabilidades sobre fosse o que fosse... até aí... iríamos sem esforço e até com alegria. Agora tramar é outra coisa e a Justiça não se inventou para tramar ninguém... para tramar Sócrates, como diz a manchete, Manuela poderia, por exemplo, esvaziar os pneus do automóvel do primeiro ministro, quando ele fosse já atrasado para algum compromisso sério... ou telefonar-lhe durante a noite, de 15 em 15 minutos, a pedir desculpa que foi engano...

E já agora... o Público. 
O Público e as SCUT. Em infografia de página inteira, o jornal publica um mapa de Portugal, onde pintou a rosa e laranja alguns distritos. Diz a legenda: "PS e PSD repartem quase por igual o número de deputados nos distritos atravessados pelas 7 SCUT com cobrança já prevista para dia 1 ou ainda a portajar."  E?!... E nada.
Ainda no Público, mas já em registo de reportagem: "Cientistas portugueses à procura de burros selvagens na China". Enfim! Talvez que o dia não esteja ainda perdido, afinal de contas.

E vamos à crise...
Diz o Público que a Ernst and Young, uma consultora, traça um cenário negro para a economia nacional – presume-se que – portuguesa – a economia nacional portuguesa, que, segundo as contas desta Ernst and Young , só há-de sair da recessão lá para 2012...
E como já vimos, a crise de que se fala é sem dúvida uma crise económica, com recessão e tudo...

Pois saltemos para a página do lado, onde o título anuncia que os bancos portugueses mantêm travão a fundo na concessão de empréstimos às famílias e empresas...
Fala-se do crédito mal parado, que se aproxima dos 3% do bolo total concedido pelas instituições financeiras... acrescenta-se que os bancos que operam em Portugal mantiveram esse travão a fundo na concessão de créditos, no mês de Abril. Os números divulgados ontem pelo Banco de Portugal dizem que o total de empréstimos concedidos às famílias e às empresas atingiu e passou dos 4 mil milhões de euros, o que dá menos 23% do que em Abril do ano passado.
Ainda segundo a leitura do Banco de Portugal , esta contenção estendeu-se a todos os sectores: habitação, consumo, investimento das empresas...
E porquê?... Porque, naturalmente, os bancos não acreditam que esse dinheiro emprestado possa ser devolvido a tempo e horas e com os juros devidos?... Tudo leva a crer que sim. Aliás, a expressão: crédito mal parado - mais não quer dizer que isso mesmo...
Mas o jornal diz que talvez não seja isso. Diz que – e citemos: "a redução do crédito às empresas e famílias está directamente relacionada com a dificuldade crescente dos bancos em recorrerem ao mercado interbancário para financiarem a sua actividade".
Ou seja, pelo que se depreende, os bancos estão a ter dificuldade em encontrar outros bancos que lhes emprestem dinheiro... ou antes, em linguagem mais apropriada... que lhes concedam crédito. E aqui a palavra crise começa a apontar a mira a outros alvos. Não tanto uma crise de recessão económica, mas mais uma crise de confiança, ou antes, de falta dela. Uma espécie de surto de desconfiança, em que ninguém acredita em ninguém, muito menos na palavra dada. Talvez que os exemplos mais recentes justifiquem essa desconfiança pandémica... Talvez, sem que déssemos conta, o conceito se fosse interiorizando... de que, apesar do ar sério e respeitável... há muita gente que não é mesmo de fiar...
E conclui assim, este parágrafo da notícia: "em consequência disso, as condições impostas para conceder um empréstimo são mais onerosas e as pessoas acabam por abandonar o pedido de crédito".
Ora, contornemos educadamente essa outra desconfiança, de que a Banca se está a aproveitar da crise económica e das dificuldades financeiras de uma parte da população portuguesa, para amealhar mais uns trocados... e vamos direitos à parte boa da notícia... que ele há sempre uma Bela para cada senão... e neste caso... a bela notícia é que talvez assim... começando gradualmente a abandonar esse solidó de viver a crédito, a gente vá começando a descer à terra e habituando a viver com o que realmente é capaz de produzir – ia a dizer - e de consumir também, mas fiquemos por aqui... começar a gente a habituar-se a viver com o que realmente tem.

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