vamos todos concordar que sim...

Há aqui esta fotografia , que tanto o Diário como o Jornal de Notícias escolheram para ilustrar o evento... uma fotografia de uma candura enternecedora.

A identidade da personagem, que está ao lado de José Sócrates, não vem identificada, mas é certamente um dos convidados do primeiro ministro, para o almoço de ontem em S. Bento. O almoço, como sabeis, foi para celebrar, ou marcar, se preferirmos, a publicação em Diário de República do diploma que permite o casamento homossexual. O que não deixa de ser curioso... ou seja, ficarmos na expectativa. Será que o primeiro ministro vai passar a convidar para almoçar todas as associações e parceiros sociais, de cada vez que for aprovada legislação que lhes diga directamente respeito?... a ver.

Mas antes disso vamos olhar para o boneco. Ou seja, a fotografia. Como já disse, a personagem que posa ao lado de Sócrates não vem identificada na foto, mas está visivelmente satisfeita e comovida até. O sorriso é contido, angelical, enquanto olha para o chão de mãos postas, como se rezasse, ou antes, como se agradecesse a um deus qualquer uma qualquer graça recebida. Já o primeiro ministro cruza os braços, com um sorriso um pouco mais discreto, olhando em frente.

Mas nem tudo são rosas... diz o DN: "Sócrates pressionado sobre a adopção..." Já o jornal I fazia a manchete com o assunto... adiantava mesmo a hipótese do Estado português vir a ser processado por causa disso... O DN lembra que os convidados estrangeiros para o almoço de ontem congratularam a coragem de Sócrates nesta matéria, mas fizeram questão de lhe lembrar que ainda agora a procissão vai no adro e é forçoso que se avance, rapidamente e em força, para a defesa dos direitos dos transsexuais e que se abra a lei à adopção, ou seja, aos direitos parentais dos casais homossexuais ...

Pois, de direitos falou precisamente José Sócrates. Os jornais, tanto o DN, como o JN, acham que o fez para comentar, de forma esquiva e indirecta, a posição de Cavaco Silva nesta matéria. Lembram-se?... O presidente aprovou a lei, mas fez questão de sublinhar que o fazia para não atrasar ainda mais o país, na luta pela recuperação económica e pela paz social...

Diz então, o Jornal de Notícias, que Sócrates, alegadamente a propósito, disse ontem que – e citemos: "nenhuma questão , nem social, nem económica, deve servir de desculpa para se descurar o campo dos direitos..." e que a aprovação do casamento homossexual reduz desigualdades e a discriminação, em Portugal.

Vamos todos concordar que sim. A menos que se considere que a situação económica e social de um país não tem nada a ver com direitos humanos, nem é factor capaz de gerar desigualdades e discriminações, por vezes bastante violentas, mesmo e de efeitos e consequências, por vezes desastradas.

Continuando...

O ataque israelita ao Mavi Marmara, o navio turco que levava ajuda humanitária para a faixa de Gaza, faz hoje notícia em todos os jornais.

A indignação é internacional. Estados Unidos, a ONU, toda a nação árabe estão em sobressalto e exigindo explicações e responsabilidades. Do lado de Telavive já se sabe... Ehud Barak, ministro israelita da defesa, lamenta a perda de vidas , mas diz que a culpa foi dos activistas, que terão respondido com violência, à abordagem dos militares israelitas, enquanto tentavam furar o bloqueio imposto por Israel.

Ora, já quanto ao bloqueio propriamente dito... já na sexta feira passada, um outro dirigente judeu, no caso, Avigdor Lieberman, chefe da diplomacia israelita, dizia que, falar em bloqueio e crise humanitária, talvez fosse um exagero, diz que não há crise humanitária em Gaza e que Israel se está a comportar da forma mais humanitária possível, permitindo a entrada de milhares de toneladas de alimentos e equipamento. Ora neste caso mais recente... a "Frota da Liberdade", como lhe chamaram, era composta por 6 navios, o Marmara ia à frente. Em dois cargueiros seguiam 10 mil toneladas de auxílio humanitário: medicamentos, comida, roupa, casas pré fabricadas, jogos infantis, material escolar, material de construção, cimento...

E ora aí está! Pois então não sabiam que o cimento, por exemplo, está proibido de entrar no território?!... Talvez não soubessem, já que, segundo a Público, a lista do que pode e não pode ser importado para a faixa de Gaza muda quase todos os dias e ninguém percebe quais os critérios que determinam a escolha do que é permitido e do que não é... nem se o que era ontem proibido, amanhã ainda continua a ser. 

O cimento já se sabe que não entra... por isso, em Gaza, as casas que se vão construindo são feitas de lama...

Enfim, talvez que, no caso do cimento, se perceba o receio... com cimento constroem-se bunkers e outro género de abrigos, que podem ser úteis num cenário de guerra, de guerrilha... mas a verdade é que a BBC diz que teve acesso a documentos, que explicam a estratégia israelita e onde se lê que o bloqueio à faixa de Gaza é um pilar central no conflito com o Hamas... Sabe-se também que a ONU já o ano passado considerava esta medida como ilegal à luz do Direito Internacional e que representava muito simplesmente um castigo colectivo para toda a população ...

Mas, a lista! 

A lista, que um representante de uma associação israelita de direitos humanos já comentou também à BBC e que é um verdadeiro cabaz de perplexidades e surpresas. Por exemplo... Canela! A canela pode entrar, já os coentros não... o mesmo para os cominhos. Carne e atum em lata podem entrar, mas se for fruta em conserva, já não. Água mineral sim, mas sumos não... a pasta de Sésamo pode, mas só desde Março, já compotas nem pensar.! Chá sim, café também, chocolate também não.

Entretanto, Israel promete que vai fazer chegar a Gaza toda a ajuda humanitária transportada por esta Frota da Liberdade. Entretanto também, Benjamin Netaniau, o presidente israelita, que ainda ontem estava no Canada a caminho dos Estados Unidos... anulou o resto da agenda e regressou a casa.

Faltava só acrescentar que o ataque israelita ao navio turco aconteceu em águas internacionais e que,  quanto à faixa de Gaza, do milhão e meio de habitantes, um milhão são refugiados e mais de 300 mil vivem abaixo do que se considera o limiar da pobreza. O desemprego chega aos 45%.

Enfim, sejamos justos, num cenário destes... come chocolates, pequena, come chocolates..?! Ora, francamente!