sexta-feira, 18 de junho de 2010

Maria Joaquim ou Joaquim Maria

A notícia passou ontem por aqui e hoje o Diário de Notícias volta a ela, mas de forma bem mais resumida , se bem que ilustrada... Inédito- avisa a legenda... depois continua: "Vistos de cima, os chapéus de 120 mil judeus ultra ortodoxos formavam uma verdadeira maré negra nas ruas de Jerusalém. Manifestavam-se contra o convívio entre crianças sefarditas e as que já frequentavam uma escola de asquenazes..." Sefarditas – judeus do Oriente... asquenazes – judeus do centro e leste da Europa, descendentes dos sobreviventes do holocausto nazi. 
A legenda não diz se foi ontem ou ante ontem.
Ontem, o que se sabia é que este protesto se baseia na alegada diferença de mentalidades entre os dois ramos do judaísmo...

E hoje...
Hoje, todos os jornais falam disso e o I até faz manchete com o assunto: "Luxemburgo investiga e-mail xenófobo contra 100 mil portugueses." Acrescenta-se que a polícia terá feito circular esse texto , onde Portugal é comparado, por exemplo, ao Afeganistão...
Diz o jornal, que a mensagem original partiu da Alemanha e que entretanto alguém acrescentou Portugal à lista. Ora, a mensagem... sugere que os cidadãos luxemburgueses partam ilegalmente para outros países, como o Paquistão, Afeganistão, Iraque, Nigéria, Turquia, ou Portugal e que façam como os imigrantes desses países alegadamente fazem quando chegam ao Luxemburgo... exigam que todos os documentos oficiais sejam traduzidos para a sua língua materna, peçam imediatamente cartas de condução, permissão de residência e tudo o que lhes vier à cabeça , com carátcer peremptório e definitivo... a mensagem acusa entretanto os imigrantes de não fazerem um mínimo esforço para se integrarem.

Já o Público acrescenta que, nesse mesmo texto, os portugueses – e os outros... afegãos e por aí fora - são acusados de abusarem da hospitalidade luxemburguesa e, também, por exemplo, de conduzirem sem seguro e terem múltiplas mulheres...
A provocação portanto é convidar os luxemburgueses a fazerem o mesmo , se estiverem descontentes com o comportamente desses imigrantes... partirem também, abandonarem o Luxemburgo sem preocupações de vistos ou o que seja... quando chegaram ao país de destino pendurem uma bandeira do Luxemburgo na janela e pronto; olho por olho, dente por dente, a vingança serve-se fria e outros aforismos...
Ora, do lado das reacções, houve já quem achasse intolerável o tom e conteúdo da mensagem... quem a remetesse para o patamar da simples brincadeira de mau gosto... quem, como o ministério luxemburguês do Interior , recusasse a acusação de racismo e xenofobia e houve quem, como o cônsul José Rosa, que ficou particularmente indignado... Vamos ouvir: "Não estou a dizer que deve haver discriminação contra esses países, mas incluir Portugal no grupo de nigerianos, paquistaneses e afegãos..." Ora, o espanto do cônsul deve desconhecer que há ainda muita gente por essa aldeia global que ainda pensa que Portugal faz parte da Espanha...
De resto, se a provocação partiu, como alguns pensam , de movimentos nazis na Alemanha, não espanta o tom xenófobo do texto... se alguém pensa realmente que em Portugal se pratica a poligamia... a questão nem chega a ser preocupante... há países em que ela existe e não será por aí que vem mal ao mundo... de resto , a ignorância também se cura.
Já quanto a essa outra questão, de sentir-se uma pessoa ofendida com esta ou aquela provocação, ou tentado insulto... a verdade é que muitas vezes o melhor mesmo é não dar resposta... que a parvoíce quer é conversa.
Acham que Teixeira dos Santos ficou particularmente ofendido quando aquele outro camarada europeu (ministro luxemburguês) lhe passou a mão pela cabeça, com ar paternal, perante as objectivas da imprensa de todo o mundo?... Se bem se lembram da fotografia... era, no mínimo, patética... parecia que o ministro luxemburguês estava a acariciar um caniche, que tivesse acabado de fazer uma gracinha... Nem que fosse em privado, o ministro português bem podia ter dito ao camarada europeu : "ouve cá, quando for assim vais fazer festinhas na careca do Pai Natal, combinado?...

E se estamos em maré de discriminação, xenofobia, atentados à dignidade e por aí fora... continuemos então. Vem no Público, que o Bloco de Esquerda quer puxar para a agenda parlamentar, logo a seguir às férias de Verão , mais um tema fracturante. No caso , a alteração de sexo. 
O dossier, chamemos-lhe assim... o dossier transsexual. "Uma questão de dignidade e direitos", escreve o Público, citando José Moura Soeiro, deputado bloquista, entrevistado pelo jornal.
"O Bloco quer tirar da esfera judicial o processo de mudança de sexo, por forma a torná-lo mais rápido do que os actuais 8 a 9 anos que costuma demorar." Actualmente, o processo médico legal impõe que se façam "várias avaliações médicas, tratamentos destinados a ajustar as características físicas do candidato às correspondentes ao sexo e aguardar um parecer da Ordem dos Médicos, que pode demorar 3 anos..."
Para o deputado Moura Soeiro , esta é "uma questão de direitos básicos das pessoas" e por isso gostava de ver no parlamento uma maioria que permitisse dar mais direitos aos transsexuais... Uma mudança que, no entender de Morura Soeiro, ajudasse a minorar os problemas de discriminação... e dá um exemplo. O exemplo de quem vai a uma entrevista de emprego e se apresenta como homem, sendo que o Bilhete de Identidade o identifica como mulher... O exemplo citado não diz se a oferta de trabalho seria para um homem, ou para uma mulher, mas, para o caso, não deverá fazer grande diferença, quanto mais não seja porque se cita um estudo europeu, que garante que 80% dos transsexuais não têm acesso ao trabalho , o que representa uma brutal forma de exclusão.
Portanto o Bloco propõe que "a alteração do registo do sexo seja apenas civil, com a apresentação de documentos médicos que comprovem a ausência de qualquer transtorno de personalidade, que viva há pelo menos 2 anos no sexo social desejado, ou esteja há pelo menos um ano em tratamentos hormonais..." Pretende ainda o Bloco que a mudança de sexo deixe de ser anunciada por edital e que se possa manter os mesmo nºs no Bilhete de Identidade e na Segurança Social...

De temas fracturantes se tem falado bastante ultimamente... e não só a propósito de sexo. Certamente que, a ser interrogado sobre a matéria, Portugal haveria de dividir-se quanto à solução para a crise económica que vive actualmente... Já quanto a direitos básicos da pessoa humana... também aqui haverá quem ache que direito básico mesmo é o paõzinho para a boca e aprender a escrever... o nome no BI, por exemplo... Maria Joaquim ou Joaquim Maria... tanto faz.

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