quarta-feira, 9 de junho de 2010

seca do caraças

Deixem-me então que vos diga o que não se pode dizer... ou seja, a lista do que não pode ser produzido, duplicado, anunciado, ou difundido pela Internet. E de momento é tudo quanto há para saber, que esta é uma lista do que está interdito de circular na rede. A saber: toda a informação contra os princípios da Constituição, que ponha em perigo a segurança do Estado, que divulgue os segredos ou subverta o poder estatal e que ponha em perigo a unidade nacional; que fira a honra e os interesses do Estado; que incite ao ódio entre etnias ou à discriminação; que difunda heresias, superstições, rumores; ideias que afectem a ordem e a estabilidade social, ou ainda obscenidades, pornografia, apostas ilegais, violência e terror.
Ora, admitindo que a Internet é o espaço da liberdade de expressão por excelência, não custará, mesmo assim, admitir sem grande esforço que , respeitando-se essa lista de proibições que aqui se desfiou, a Internet não perderia grande coisa e talvez até se tornasse um sítio mais asseado e aprazível... enfim é possível que sim... e é também possível que um país como Portugal, por exemplo, subscrevesse uma determinação semelhante – ou seja – a de proibir que se publique na Internet afirmações, informações, considerações que atentem contra a Constituição, ou a segurança do Estado... também seria razoável concluir que, não chegando ao extremo da proibição radical, também seria de bom tom desencorajar a publicação de conteúdos que incitam ao ódio, à violência, à discriminação racial, ao terror... Mas acontece que esta notícia e esta lista, que aqui nos trouxe, vêm da China e constam do chamado Livro Branco da Internet. O jornal Público escreve em título que no Livro Branco da Internet, "o regime chinês afirma paradoxalmente querer levar a Internet a ainda mais chineses..." Paradoxalmente seria, se Pequim não soubesse do enorme potencial da net, como arma de informação e propaganda... Mas o cerne desta questão é outro.
É esse abismo estreito, entre o que se diz e o que verdadeiramente se quer dizer... ou, como diz o adágio popular... quem te ouvir falar não te leva preso.

E esta vem no Público , notícia discreta e que surge na sequência do anúncio que já vem de segunda feira.... que as farmácias portuguesas iam começar a vender testes de paternidade...
“Recolhem-se as amostras de ADN, enviam-se pelo correio, e aguarda-se pelo resultado. O primeiro teste de paternidade anónimo, feito sem a mediação de profissionais de saúde, já está a ser vendido, de forma livre, nas farmácias...” escrevia o jornal Público na edição de ontem...
Pois o de hoje acrescenta que o Infarmed está contra e proíbe que essa venda seja feita em farmácias. Uma resolução da Autoridade do Medicamento, escreve o Público, manda que se devolva todo o stock armazenado e que se pare imediatamente com a venda livre de testes de paternidade em farmácias... Porquê?
Aqui é que a história começa a ganhar contornos verdadeiramente interessantes.
Diz o Público, que o Infarmed decretou a proibição da venda de testes de paternidade nas farmácias, porque os testes de paternidade, no entender do Infarmed, não apresentam um fim médico.
É bem provável que não, como as escovas de dentes, as escovas de cabelo, os cremes de beleza, shampôs, tesouras e corta-unhas , ou, com vossa licença, os preservativos, ou até os testes de gravidez... tudo coisas à venda numa farmácia perto de si...

E chegamos ao de Negócios, onde se conclui  que,  afinal se calhar, quem está de fora sempre racha lenha!
Ou seja, já não é a Comissão Europeia, ou comissário, nem nenhum ministro de um país amigo e mais avisado, ou mais folgadito em deves e haveres... neste caso, diz o Jornal de Negócios, que uma agência de rating defende cortes nos salários dos portugueses.
Ora portanto uma agência de rating defende um corte nos salários dos portugueses.. Vamos admitir que desta vez não houve enganos de leitura ou apreciação... como já aconteceu, não só com agências de rating, que acabaram por admitir o erro, depois de terem mergulhado o mundo em recessão, ou depressão, como queiram... como já aconteceu também com o comissário europeu, Olli Rehn, que acaba de recuar no tom das críticas à economia portuguesa... Desta vez é uma agência de rating, que “acha” que Portugal deveria reduzir salários. Como podia, também e eventualmente, dizer que afinal Portugal não tem futuro nenhum e o melhor é declarar falência técnica, ou sub alugar o território, para fazer um parque temático... claro que aqui chegados poderia também  fazer-se como o rei de Espanha e dizer... "porque é que vocês não se calam?!"
Enfim... pode perguntar-se o mais céptico e desalentado cidadão... então e depois disto Portugal tem futuro?...
Pois futuro tem, decerto! O presente é que está uma seca.