terça-feira, 20 de julho de 2010

o que tu queres, sei eu (#2)

As palavras ... as palavras são terríveis. A manchete do Diário de Notícias - "PSD quer fim da justa causa para facilitar despedimentos". Acrescenta-se em sub título que a proposta social democrata prevê trocar a expressão “justa causa” por uma simples “razão atendível”... lê-se também, um par de linhas mais adiante, que outra proposta de revisão do texto constitucional... que é disso que se está falar... de uma proposta de revisão constitucional da autoria do PSD... outra alteração proposta é a de riscar do texto constitucional esse ponto que diz que "educação e saúde são tendencialmente gratuitos".
A verdade é que, o facto da Constituição portuguesa ditar que a educação e a saúde sejam tendencialmente gratuitos em Portugal, acaba por não comprometer seriamente ninguém com esse desígnio... Para isso lá está o advérbio, que avisa que é só tendencialmente que a educação e a saúde são gratuitos... não é caso para alarme, que, nem isso representa para já uma despesa acrescida para o Estado, nem compromete o negócio das escolas ou serviços de saúde privados... Daí que parece de uma urgência relativa preocupar-se a gente com essa matéria... Já quanto à justa causa... o título do jornal é quase uma provocação... PSD quer fim da justa causa... como é que alguém pode querer acabar com uma justa causa?!...
Mas talvez não seja bem assim, porque a seguir lê-se que é para facilitar despedimentos, que se quer acabar com a justa causa.
Ou seja, é então essa a nova justa causa. A justa causa, para acabar com a justa causa, é a de facilitar despedimentos... Pelo caminho ficamos a saber que, em substituição da justa causa, o PSD propõe uma razão atendível... que deve ou pode ser atendida... diz o dicionário... uma razão atendível... convenhamos, então,  que qualquer justa causa traz em si uma razão atendível.
Outra manchete curiosa e que nos remete igualmente para a proposta de revisão constitucional social democrata vem no I e diz que "PSD retira poderes ao presidente" –disso já se tinha ouvido dizer - e que "apaga PREC da Constituição".
Ora, PREC quer dizer Processo Revolucionário Em Curso e já foi. Foi o nome que se deu àqueles meses quentes, logo a seguir ao 25 d’abril de 74 e que historicamente foi até ao 25 de Novembro de 75...por aí... mais ou menos...
Ora, tirando isso que é histórico e é escusado apagar seja de onde for... é como a ditadura do Estado Novo e o d. Sebastião ter desaparecido... é histórico e não há volta a dar... quanto ao resto...
O processo revolucionário em curso... pois se houver algum... também não é riscando-lhe a existência do texto da Constituição do país que se consegue travá-lo, ou fazê-lo desaparecer, como por milagre ou passe de mágica.

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